domingo, 11 de março de 2007

Começa a história de Pedrinho


Diferentemente da imagem que a gente imagina de um (futuro) pai ansioso andando de um lado para o outro no corredor da maternidade à espera daquele choro clássico de bebê recém nascido, eis que me encontro num leito do hospital, cochilando no sofá. Até aquele momento todos os acontecimentos foram extremamente tranquilos, dos primeiros aos últimos meses de gravidez, então nada mais coerente que relaxar, mesmo naquele momento crucial da natividade, que, diga-se de passagem também foi tranquila. Não há mais drama nos nascimentos, tudo parece planejado e todo problema que aparece corrigido. Uma segurança que faz a gente pensar em nossos filhos vivos e saudáveis lá longe, no futuro. Quis filmar o parto,mas aconselharam-me a mudar de idéia. Como era uma cesariana, haveria muito sangue e por ser um procedimento mais técnico que emocional, de romântico não tinha nada. Concordei na hora. Não que seja sensível , mas não queria que a primeira imagem fosse de Pedro banhado de sangue. A primeira imagem de Pedro foi no corredor do Hospital envolto num pano verde nos braços de uma enfermeira e cercado de outras duas. Todas admirando o "raro" bebê japonês que acabara de nascer. Raro mesmo, porque nos dias que se seguiram houve uma peregrinação de enfermeiras no nosso leito só pra ver o Pedro, a celebridade da semana. Querem saber minha primeira e suspeitíssima impressão? Achei Pedrinho lindo! Um tanto "bicudinho" pois tinha os lábios grossos que não fazia idéia de quem havia "puxado". De resto, era um clone do pai. Mas vou parar por aqui, estou corrompendo este texto. Meu lado "coruja" está falando mais alto. Perdoem-me mas sou pai agora, não posso evitar, é mais forte que eu. Perguntem se estou feliz...

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Orkut


Desativei meu Orkut semana passada e nunca recebi tantos scraps até então. Todos perguntando, claro, o motivo de tão estranha decisão afinal o site de relacionamentos é o preferido de 9 entre 10 usuários de internet no Brasil. Quem passa um dia sequer sem verificar os scraps ou espiar os amigos? O Orkut realmente foi ótimo pois através dele reencontrei amigos de todas as fases, infância, adolescência... fiz festa e relembrei momentos importantes do passado. Talvez aí, no "passado" é que está problema que me encomoda. Reencontrá-los num ambiente virtual é fantástico mas nada será como antes. O tempo passa e os interesses e afinidades mudam. Mudam muito aliás. Podemos até nos reencontrar com velhos amigos, mas ficaremos só relembrando o passado. É divertido, mas, e depois? Haverão mais assuntos interessantes com pessoas que quase nunca vemos? Existem circunstâncias que fazem uma amizade se consolidar ou se desfazer. A convivência é uma delas. Quando ela acaba, outras pessoas entram em sua vida, é um processo contínuo. Hoje por exemplo, meu círculo de amigos é completamente diferente de 10 anos atrás! Isso não significa que ignoro meus amigos antigos, pelo contrário, valorizo-os porque fazem parte da minha história, mas de alguma forma o vigor, o entusiasmo se foram. O que quero dizer é que amizade presupõe reciprocidade e não é aquela de enviar e responder scraps. É algo mais próximo e menos virtual. A exceção de duas amigas minhas que não conheço pessoalmente, todos os meus os meus contatos são pessoas que eu convivi, que são de carne e osso. Mesmo assim, meus scraps eram minguados. O que derruba minha tese que faz apologia dos contatos imediatos de primeiro grau. O Orkut derruba qualquer tese... Minha lista não passava de 70 amigos (isso aos 37 anos) mas conheço adolescentes que tem mais de 600amigos! Devo ser muito anti-social pelo visto. Via estas e outras distorções no dia-a-dia do Orkut, sendo que a mais marcante é o makeup de perfil. Simplificando: Vende-se a imagem que quiser no Orkut. Moderno, Arrojado, Culto, Descolado, Engraçado, entre outros... Essas coisas foram me deixando meio desconfortável porque de alguma forma eu estava fazendo parte daquilo. Então decidi sair. Admito que passava muito tempo no Orkut, perdia horas bisbilhotando a vida alheia, mas sem culpa, afinal todos se expõe ali e estão cientes disso. Mas cada vez que fazia isso me sentia mais e mais insignificante. Resumindo, tinha muitos motivos pra me desligar do Orkut e apenas um pra ficar: meus amigos. Novos, antigos e pré-históricos mas sempre eles. Esses eu não perco mais de vista, mas quero que suas vidas transcorram como tem que ser, assim como a minha, sem a presença de um observador.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Carta à Pedrinho


Não me esqueço do dia em que vi Pedro pela primeira vez numa tv de tela plana numa sessão de ultrassonografia. A imagem, toda esverdeada, logo me remeteu a Matrix, onde há uma clara divisão entre mundo virtual (verde) e mundo real (azul). Eu e Kimie (minha esposa) estávamos no mundo real, com preocupações, incertezas e, claro, enjôos. Mas Pedrinho não, ele parecia estar num outro mundo. A analogia com o filme foi muito além de uma imagem gerada em cores surreais. Pedro flutuava em seu limitado espaço. O útero parecia ser um lugar bastante escorregadio pois ele não conseguia se firmar. Mas acima de tudo o habitáculo de Pedro passava a sensação de ser um lugar confortável, macio e sem quinas, a barriga de Kimie. Senti que meu filho estava protegido de alguma forma, como se blindado das interpéries do mundo externo. Mergulhei naquela fantasia delirante e por alguns instantes quis que fosse assim pra sempre. Estava feliz por ele estar vivo e saltitante em seu mundo aquático. Imaginava que seus sonhos eram assim, pura liberdade. Seria ele tão feliz aqui fora - pensei eu - com a gravidade em seus ombros impedindo-o de voar? Não queria que a realidade atingisse Pedro, que a impossibilidade das coisas o deixasse triste. Logo ele, acostumado a grandes feitos em seu mundinho particular. Mas acordei. Pedro cresceu e aqui chegamos. Seu espaçoso "quartinho" encolheu e agora ele tenta se encaixar nele de alguma forma. Na verdade Pedro quer sair porque ele é maior que o mundo "matrix" que imaginei, um mundo fake , improvável, que minha mente de pai criou. Daqui à pouco meu filho estará apto para nascer, mas não necessariamente preparado para isso. Ninguém está. Este mundo azul, o real, é sombrio, sujo, apático e sem trilha musical de fundo. Mas é o único que temos e podemos dar a quem chega assim como Pedro. Mesmo não tendo plantado uma árvore de verdade ou escrito um livro como manda o ditado, ainda assim direi "seja bem vindo, este mundo é uma droga, mas você vai superá-lo, vai ser maior que ele". "Vai Pedro, vai!"