sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Carta à Pedrinho


Não me esqueço do dia em que vi Pedro pela primeira vez numa tv de tela plana numa sessão de ultrassonografia. A imagem, toda esverdeada, logo me remeteu a Matrix, onde há uma clara divisão entre mundo virtual (verde) e mundo real (azul). Eu e Kimie (minha esposa) estávamos no mundo real, com preocupações, incertezas e, claro, enjôos. Mas Pedrinho não, ele parecia estar num outro mundo. A analogia com o filme foi muito além de uma imagem gerada em cores surreais. Pedro flutuava em seu limitado espaço. O útero parecia ser um lugar bastante escorregadio pois ele não conseguia se firmar. Mas acima de tudo o habitáculo de Pedro passava a sensação de ser um lugar confortável, macio e sem quinas, a barriga de Kimie. Senti que meu filho estava protegido de alguma forma, como se blindado das interpéries do mundo externo. Mergulhei naquela fantasia delirante e por alguns instantes quis que fosse assim pra sempre. Estava feliz por ele estar vivo e saltitante em seu mundo aquático. Imaginava que seus sonhos eram assim, pura liberdade. Seria ele tão feliz aqui fora - pensei eu - com a gravidade em seus ombros impedindo-o de voar? Não queria que a realidade atingisse Pedro, que a impossibilidade das coisas o deixasse triste. Logo ele, acostumado a grandes feitos em seu mundinho particular. Mas acordei. Pedro cresceu e aqui chegamos. Seu espaçoso "quartinho" encolheu e agora ele tenta se encaixar nele de alguma forma. Na verdade Pedro quer sair porque ele é maior que o mundo "matrix" que imaginei, um mundo fake , improvável, que minha mente de pai criou. Daqui à pouco meu filho estará apto para nascer, mas não necessariamente preparado para isso. Ninguém está. Este mundo azul, o real, é sombrio, sujo, apático e sem trilha musical de fundo. Mas é o único que temos e podemos dar a quem chega assim como Pedro. Mesmo não tendo plantado uma árvore de verdade ou escrito um livro como manda o ditado, ainda assim direi "seja bem vindo, este mundo é uma droga, mas você vai superá-lo, vai ser maior que ele". "Vai Pedro, vai!"

Um comentário:

Unknown disse...

Aaahhh o seu primeiro post não podia ter sido mais lindo... *_* E nada melhor do que falar sobre essa experiência única de ser pai e todas as conseqüências que isso traz. Eu imagino que seja muito difícil, nos dias absurdos em que vivemos, colocar um ser no mundo e ensiná-lo a andar com as próprias pernas. Me pergunto se eu estaria preparada um dia...
Mas acredito que você e a Kimie vão cuidar do Pedrinho maravilhosamente bem... Protegendo-o sem sufocá-lo... Dando asas, mas ensinando-o a usar nas horas certas...
Como eu te falei, estou cheia de idéias na minha cabeça, mas elas se misturaram e agora não saem tão bem... =/
Então... fico por aqui... aguardando seu próximo post... =P
Beijos!!!! =*
e muitos beijos pra mamãe Kimie e pro bebê que já tá quase chegando! ^^